Cada vez mais raro nas residências, diante das facilidades oferecidas pelos celulares e a internet, o telefone fixo já foi um dos meios de comunicação mais utilizados no Brasil. Em décadas passadas, quando o serviço era indispensável, operadoras como a Telesp dominavam o mercado.
Iniciando as atividades em 1973, a Telecomunicações de São Paulo (Telesp) estava entre as operadoras integradas ao sistema da então estatal federal Telebras. O grupo incluía prestadoras como a Telecomunicações do Rio de Janeiro (Telerj) e a Telecomunicações de Minas Gerais (Telemig), entre outras, que atuavam em cada unidade da federação.
A operadora esteve presente em quase todas as regiões do território paulista, cobrindo mais de 90% dos municípios do estado, oferecendo telefonia fixa e outros serviços. Ela também era responsável pelos “orelhões” em funcionamento na região, os clássicos telefones públicos instalados nas ruas.
Que fim levou a Telesp? Neste texto, o TecMundo relembra a trajetória da operadora que era uma das maiores do país até a privatização do Sistema Telebras no final da década de 1990.
Serviços que a Telesp oferecia
Sediada em São Paulo (SP), a tradicional operadora tinha o telefone fixo como seu principal serviço. Entre os anos de 1980 e 1990, possuir uma linha telefônica em casa era sinal de status social, pois o comprador adquiria ações da Telebras, vendidas para financiar a expansão do sistema.
O preço de uma linha fixa da Telesp podia chegar a custar o equivalente a mais de R$ 5 mil, dependendo da época, e muitas vezes era preciso esperar anos para ter a sua. Muitos proprietários ganhavam dinheiro vendendo suas linhas ou alugando-as, enquanto outros as envolviam em negociações como a compra de carros e casas, devido ao alto valor do produto.
O telefone fixo da Telesp permitia realizar ligações locais, interurbanas e internacionais, além da chamada a cobrar, lançada em 1982, outro serviço que caiu em desuso. Havia, ainda, ferramentas como Discagem Direta a Ramal, centrais telefônicas e Discagem Direta Gratuita (0800), oferecidas para assinantes comerciais.
A companhia telefônica paulista também operava os orelhões, que funcionavam com fichas e, posteriormente, cartões. Ela tinha os modelos amarelos para chamadas locais ou interurbanas na mesma área de tarifação e azuis para chamadas interurbanas em qualquer cidade.
O sistema também incluía os orelhões semipúblicos, instalados em bares, hotéis, padarias e restaurantes, que funcionavam como telefone comum e público, modificando uma chave seletora, e o Falefácil, com indicador de minutos conversados. Alguns dos orelhões da Telesp foram substituídos por cabines de concreto.
Não podemos deixar de citar, também, o serviço de modem da operadora estatal, que transformava o telefone em uma central para transmitir e receber dados, conectando o aparelho à TV. A tecnologia foi usada na estreia do Videotexto no Brasil, em 1982, um precursor da internet no país.
Telesp Celular
A Telesp também foi a responsável pela implantação do serviço de telefonia móvel no estado de São Paulo. Isso começou a ser feito no dia 6 de agosto de 1993, com o início das operações da Telesp Celular, uma subsidiária da prestadora criada para focar na tecnologia que ainda engatinhava no país.
Operando sob o sistema analógico, a empresa era responsável por uma área de concessão que incluía 620 municípios. A implantação foi feita em tempo recorde, com a companhia chegando a ter 1,1 milhão de assinantes em mais de 370 cidades, entre 1997 e 1998, se consolidando como a maior operadora de celular da América Latina, na época.
Em 1998, a rede celular começou a ser atualizada para o sistema digital, com a implantação do CDMA (IS-95). Um ano depois, a operadora lançava o seu primeiro celular pré-pago, sistema até então inédito no Brasil. Batizado de “Baby”, o plano não tinha contrato e o telefone trazia R$ 100 de crédito com validade de 90 dias, podendo receber recargas de R$ 50 e R$ 100.
Outra promoção da Telesp Celular que ficou famosa foi a “Peg & Fale”, que também seguia o método recarregável, oferecido como alternativa para a assinatura convencional. Em 2001, o serviço ganhou uma versão adaptada para os fãs de futebol, o “Peg & Fale Gol”, com os celulares trazendo as cores e os escudos de seis times do estado.
A privatização da Telesp
Com o objetivo de ampliar os serviços e promover a chegada de novas tecnologias, o governo federal decidiu privatizar o Sistema Telebras na segunda metade dos anos 1990. Dessa forma, as estatais de telefonia fixa, móvel e de transmissão de dados foram vendidas.
As empresas foram divididas em 12 holdings, abrangendo diferentes regiões, sendo quatro de telefonia fixa e oito de telefonia celular. Ocorrido no dia 29 de julho de 1998, o leilão da Telebras arrecadou um total de R$ 22,058 bilhões, com ágio médio de 63,7% sobre os valores mínimos.
O preço mais caro foi o da Telesp, pela qual o consórcio vencedor desembolsou R$ 5,783 bilhões. A compradora da Telecomunicações de São Paulo foi a espanhola Telefônica, que ficou com 56,6% das ações, e era líder de um grupo que tinha Portugal Telecom (23%), Iberdrola Investimentos (7%), Banco Bilbao Vizcaya (7%) e RBS Participações (6,4%).
Na telefonia móvel, a Telesp Celular também foi a mais cara, mesmo sendo vendida sozinha. O grupo arrematante, Portugal Telecom, pagou um total de R$ 3,59 bilhões, mais que o dobro do que custou a holding Tele Sudeste Celular, que incluía a Telerj Celular e a Telest Celular.
O fim da Telesp
Mesmo com a privatização, a antiga operadora estatal continuou utilizando o seu nome original até 2008, quando ocorreu o fim da Telesp. A partir daí, todas as lojas e pontos de venda passaram a apresentar o nome Telefônica.
Já a Telesp Celular virou Vivo, mudança que ocorreu antes disso, em 2003, após a união entre a Portugal Telecom e a Telefônica. Anos mais tarde, em 2012, o nome Telefônica também deixou de ser usado, com a operadora passando a se chamar Vivo.
Dessa forma, a marca Telesp não é mais usada pelo Grupo Telefônica no Brasil. Uma das poucas lembranças que restou da antiga estatal de telefonia de São Paulo é o “Fusca da Telesp”, que integrava a frota oficial da companhia, foi restaurado por um antigo funcionário e segue circulando com a mesma aparência original e a escada no teto.