Manaus (AM) – O prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), voltou ao centro de um escândalo político e jurídico após o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) acatar representação movida pelo vereador Coronel Rosses. A denúncia envolve suspeitas de favorecimento em contratos da prefeitura e uma controversa viagem do chefe do Executivo municipal ao Caribe, realizada entre 28 de fevereiro e 7 de março de 2025.
A representação aponta que fornecedores da prefeitura teriam custeado parte da viagem, que incluiu hospedagem em hotel de luxo e deslocamento em jatinho particular. Segundo Rosses, empresas contratadas por dispensa de licitação, como MURB, GRAFISA, ROYAL TECH e RIO PIORINI, estariam ligadas ao suposto favorecimento.
O Ministério Público de Contas, em parecer, destacou a gravidade do caso e a necessidade de aprofundar as investigações. “Há evidências de favorecimentos a particulares e desrespeito aos princípios administrativos”, diz trecho do Laudo Técnico Conclusivo n. 08/2025-DICAMM, que serviu de base para a decisão.

Embora a unidade técnica não tenha identificado, até agora, comprovação de uso direto de recursos públicos na viagem, a atuação da gestão de David Almeida foi considerada evasiva. “Conquanto as imagens divulgadas pela imprensa, o Prefeito foi furtivo na resposta, ao aduzir que encontrou pessoas de Manaus na viagem, sem dizer se eram os empresários citados nas matérias”, aponta o documento.
Na defesa apresentada ao TCE-AM, David Almeida negou irregularidades, afirmando que não utilizou verbas públicas e que a viagem foi custeada com recursos pessoais, inclusive anexando comprovante da compra da passagem aérea. Porém, o parecer reforça que a origem dos recursos e a presença de empresários continuam em aberto, sendo possível a investigação em outras esferas. “Nada obsta, contudo, que o Ministério Público Estadual faça essa investigação, em eventual procedimento apuratório de improbidade administrativa”, ressalta o Ministério Público de Contas.
Diante da falta de clareza e da dimensão dos contratos envolvidos, o parecer determinou uma medida mais dura — a realização de inspeção extraordinária nas contratações da prefeitura com as quatro empresas. “A inspeção extraordinária torna-se necessária, como meio adequado para obter o aprofundamento exigido, de modo a se constatar a procedência ou não do aventado beneficiamento”, afirma a decisão.
Na prática, a medida abre caminho para que técnicos do TCE-AM façam uma varredura detalhada em todas as licitações e contratos da Prefeitura de Manaus com as empresas citadas durante a gestão de David Almeida. O foco será apurar possíveis direcionamentos licitatórios, cláusulas restritivas e condições suspeitas de favorecimento.
A determinação representa mais um revés para o prefeito, que enfrenta crescente pressão política e questionamentos sobre transparência na administração. Na última pesquisa, realizada no início do mês de agosto, 57% dos entrevistados pela Census Consultoria reprovam a administração do prefeito.