Um manuscrito do século XIII foi utilizado em uma pesquisa recente para prever a ocorrência, no ano que vem, de um fenômeno espacial raro: a explosão de luz de uma nova recorrente. Nesse sistema binário, uma estrela morta suga a matéria de uma companheira maior até que a acumulação de gás provoque uma explosão termonuclear que gera um brilho intenso no céu.
De acordo com o autor do trabalho atual, professor Bradley Schaefer, da Universidade Estadual de Louisiana nos EUA, a “estrela maravilhosa” descrito pelo Abade Burchard de Upsberg em 1217 pode ser a T Coronae Borealis (T CrB), uma estrela “variável” que aumenta de brilho durante uma semana a cada 80 anos, podendo ser vista da Terra a olho nu.
Como a T CrB teve registros científicos de erupções com pico de magnitude visual de 2.0 nos anos de 1866 e 1946, Schaefer achou “razoável olhar para trás no tempo, para erupções anteriores” ocorridas nos anos de 1217 e 1787, antes de cravar sua previsão da próxima ocorrência, por volta de abril de 2024, baseado em uma escala de tempo de 80 anos.
Como uma estrela nova recorrente se comporta?
Na verdade, T CrB não é apenas uma, mas sim um par de estrelas: uma gigante vermelha e uma anã branca. A primeira é o núcleo remanescente de uma estrela que já queimou todo o seu combustível nuclear, enquanto a outra é uma estrela normal, de baixa massa.
Quando as duas estrelas se aproximam dramaticamente e formam um sistema binário, a preponderante gravidade da anã “vampiriza” material da colega, aquecendo-a de forma a causar uma explosão de brilho.
Embora alguns astrônomos, como Schaefer, defendam que isso ocorre em um ciclo muito regular, outros defendem a teoria de um intervalo de tempo irregular.
Buscando o brilho de uma estrela no passado
Além de medir o tempo de uma queda do brilho pré-erupção nas da T CrB, Schaefer pesquisou relatos de estrelas desconhecidas na constelação Coronae Borealis (Coroa Norte). Isso o levou a uma crônica do reverendo Francis Wollaston, que mediu a localização de estrelas acima de 7,8 magnitudes, por volta do Natal de 1787.
Mas o caso de Burchard é ainda mais impressionante, pois o religioso relatou em 1217 que uma estrela da Corona Borealis “brilhou com grande luz” durante “muitos dias”, e isso em um tempo onde ainda não existiam telescópios. Schaefer destaca que o evento não pode ter sido confundido com um cometa, porque o abade usou a palavra latina stella (estrela) e falou em “sinal maravilhoso”, enquanto cometas sempre foram considerados maus presságios.
Por isso, o estudo argumenta que o evento descrito no manuscrito medieval é “exatamente” o que se espera de uma erupção espetacular da T CrB, principalmente porque todas as outras possibilidade foram “fortemente rejeitadas”. E conclui: “Ao contrário dos eventos humanos, os transientes astronômicos podem ter todas as possibilidades enumeradas, quantificadas e testadas”.
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