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entenda papel do país no conflito entre Israel e Palestina

Manaus (AM) – Em entrevista concedida à reportagem nesta semana, Mamoun Imwas, presidente da Sociedade Árabe Palestina do Amazonas e diretor financeiro da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL), afirmou que o Brasil tem um dever histórico com o povo palestino e pediu uma atuação mais firme do governo brasileiro no processo de paz entre Israel e Palestina. Segundo ele, o presidente Lula é visto pela comunidade palestina como um “articulador respeitado no mundo”.

“A Palestina quer que o Brasil presida a conciliação com Israel por três motivos. Primeiro, porque o presidente Lula é um homem respeitado na Europa, África, Ásia. Ele entende profundamente a questão palestina. Segundo, porque o Brasil é respeitado na América Latina. Quando o Brasil toma uma decisão, vários países seguem. Terceiro, porque o povo palestino vê no Brasil uma esperança de justiça”, afirmou Mamoun.

A entrevista de Mamoun ao Portal Tucumã ocorreu dias antes de uma nova declaração contundente do presidente Lula sobre o conflito. Nessa terça-feira (3), em pronunciamento no Palácio do Planalto, Lula voltou a classificar como “genocídio” a ofensiva israelense em Gaza. O presidente reagiu a uma nota da Embaixada de Israel no Brasil, que o acusou de “comprar mentiras” do Hamas.

“O que está acontecendo na Faixa de Gaza é um genocídio. É a morte de mulheres e crianças que não estão participando de guerra”, disse Lula. “Um presidente da República não responde a uma embaixada. O presidente reafirma o que disse. Exatamente por conta do que o povo judeu sofreu na sua história que o governo de Israel deveria ter bom senso e humanismo no trato com o povo palestino. Eles se comportam como se o povo palestino fosse cidadão de segunda classe”.

Manifestação pró-Palestina em manaus (Fotos: Tatiana Sobreira)

Guerra de armas e informação

Mamoun destaca que o povo palestino sofre duas guerras: “a guerra de destruição física e a guerra da informação”. Ele afirma que a Palestina é vítima de uma campanha de desinformação internacional que tenta rotular o povo palestino como antissemita ou terrorista. “A gente não é antissemita porque somos semitas também. Não somos contra os judeus, temos judeus palestinos que lutam conosco. Não somos terroristas. O Hamas venceu as eleições em 2006, não é considerado grupo terrorista pela ONU, nem pelo Brasil, nem por mais de 140 países”, disse.

Ele também criticou a cobertura da imprensa brasileira. “A Rede Globo sempre se recusou a nos entrevistar. Agora, pressionada pelas redes sociais, começou a ouvir o outro lado. Isso não acontecia antes”.

Para Mamoun, o Brasil deve agora reparar um erro histórico. “Em 1947, o Brasil, através de Oswaldo Aranha, manobrou a votação na ONU que dividiu a Palestina e permitiu a criação de Israel. Mais de 50% do nosso território foi entregue. Hoje, não temos nem 20%”.

“Tem rua e museu em Israel com nome de Oswaldo Aranha. É hora do Brasil corrigir esse erro histórico, assumindo um papel de liderança na construção da paz e da justiça”, concluiu.

Segundo Mamoun, o conflito também tem fundo econômico. “Como em outras guerras, como no Iraque e na Líbia, há interesse em riquezas. Na Faixa de Gaza foram descobertos milhões de metros cúbicos de gás. Além disso, existe um projeto de canal entre o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo, que substituiria o Canal de Suez. Israel quer expulsar os palestinos para controlar essa região”, explicou.

Ele destacou também o valor histórico da Palestina. “Temos a igreja da Natividade, a mesquita de Abraão, a Esplanada das Mesquitas. Essa é uma riqueza que não pode ser transferida. Por isso a guerra é longa”.

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A contribuição Palestina no Amazonas

Mamoun lembrou que cerca de 400 palestinos vivem no Amazonas, com forte presença em Manaus e no interior. “Quando falamos de palestinos aqui, falamos de geração de empregos, lideranças e desenvolvimento. Empregamos entre 25 e 30 mil pessoas, direta e indiretamente. A rua Marechal Deodoro, conhecida como ‘bate palma’, é um exemplo do nosso legado”, disse.

“Temos engenheiros, advogados, médicos, diretores de hospital. O senador Omar Aziz é descendente de palestinos. A comunidade se destacou na política e na economia”, concluiu.

A professora Gleice Oliveira, estudiosa da história contemporânea e militante de direitos humanos, foi enfática ao destacar a urgência de um posicionamento mais firme do Brasil diante do agravamento do conflito. Para ela, “o mais urgente mesmo é o cessar-fogo, é parar o genocídio, é tornar claro que o processo que acontece ali é um processo de colonialismo, de limpeza étnica e de genocídio”.

Segundo Gleice, não basta apenas a retórica do governo brasileiro: “O discurso do presidente Lula é importante, mas é insuficiente. Já não dá mais para ficar só no discurso. São mais de 65 mil pessoas mortas em menos de dois anos. O Brasil precisa romper relações militares, diplomáticas, econômicas, de cooperação técnica e científica com o Estado de Israel”, afirmou.

Ela também denunciou o que chama de “desumanização sistemática do povo palestino” por parte do governo de Israel, destacando que o sofrimento de mulheres, crianças e profissionais de saúde tem sido intencional: “Eles matam crianças e mulheres grávidas para impedir que a sociedade se reproduza. Estão destruindo escolas, hospitais, universidades. Gaza virou um presídio a céu aberto, sem acesso à água, eletricidade ou abrigo. É uma guerra de um exército contra um povo que não tem exército”, concluiu.

Situação catastrófica

Para Martina Marchiò, responsável médica da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Cidade de Gaza, há uma necessidade imediata de um cessar-fogo e da reabertura das fronteiras para permitir a entrada de ajuda em massa e de forma contínua. “A situação humanitária em Gaza é catastrófica, estamos realmente no fim da linha, estamos nos estágios finais”, afirmou a médica.

Dados oficiais apontam para mais de 54,5 mil mortes, mas um estudo publicado na revista The Lancet considera os impactos indiretos do conflito sugerem que o número real de vítimas pode ultrapassar 186 mil, considerando fatalidades diretas e indiretas, como aquelas decorrentes da destruição de infraestrutura, falta de acesso a cuidados médicos, alimentos e abrigo.

Na última quarta-feira, o Conselho de Segurança da ONU se reuniu para votar uma resolução que exigia um cessar-fogo “imediato, incondicional e permanente” entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. A proposta foi amplamente apoiada, recebendo votos favoráveis de 14 dos 15 membros do conselho. A resolução tinha como objetivo imediato encerrar as hostilidades que já deixaram dezenas de milhares de mortos e intensificar os esforços humanitários em uma região devastada por meses de conflito.

No entanto, os Estados Unidos — aliados históricos de Israel — foram os únicos a votarem contra a resolução. A delegação norte-americana justificou o veto alegando que o texto não incluía cláusulas claras sobre o desarmamento do Hamas, o que, segundo eles, representaria um risco à segurança de Israel e à estabilidade futura da região. A decisão americana gerou forte repercussão internacional e críticas de países que defendem um cessar-fogo imediato por razões humanitárias.



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