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‘Dá vontade de chorar’, diz mulher que viralizou em Manaus ao oferecer faxina por R$ 30 para alimentar os filhos

Manaus (AM) – Na quarta etapa do bairro Jorge Teixeira, na Zona Leste de Manaus, vive a dona Gleice Fontes, uma mulher de 40 anos cuja força de vontade, amor pelos filhos e dignidade emocionaram as redes sociais e o coração de milhares de brasileiros. Foi em meio a uma tentativa simples e sincera de garantir o almoço do dia seguinte que ela viralizou: ao oferecer serviços de faxina por apenas R$ 30, com a condição de que o contratante pagasse a passagem, Gleice tocou a todos. Ela não pedia esmolas. Pedia trabalho.

Na casa humilde onde vive com o marido e três filhos, Gleice recebeu a equipe do Portal Tucumã com o coração aberto. Cada canto da residência conta uma história de superação. As paredes manchadas pela infiltração, a ausência de um banheiro adequado, os móveis quebrados, o freezer emprestado por mais de um ano — tudo reflete a dureza da realidade da família. Mas, ao mesmo tempo, cada sorriso, cada palavra dita com esperança e cada gesto de carinho entre os membros da casa revelam uma força que vai além da pobreza material.

“Eu viralizei porque eu queria trabalhar. Eu não queria deixar meus filhos sem comer. Eu prefiro ganhar 25, 30 reais e saber que amanhã tem o que colocar na banca, do que ver meus filhos passando fome”, desabafou Gleice, emocionada.

Casa tem problemas de infiltração (Foto: Elias Fonseca/Portal Tucumã)

Uma família marcada pela luta

Gleice mora com o marido, Valdeci de Souza, que enfrenta sérios problemas de saúde. Ex-pedreiro, ele foi afastado do trabalho após desenvolver uma úlcera venosa na perna decorrente de uma fratura exposta e agravada pela diabetes. A ferida, segundo ele, “está com o osso exposto”, e sem o tratamento adequado, torna-se cada vez mais difícil até mesmo caminhar. Há tempos ele aguarda uma cirurgia pelo sistema público de saúde, mas até agora não obteve resposta.

“Minha perna está muito inchada, feia. Já tentei voltar a trabalhar, mas no outro dia não consigo nem pisar no chão. Eu sou pedreiro. Eu gosto de trabalhar, mas desse jeito é impossível. O que mais dói é não conseguir ajudar a minha família como eu queria”, desabafou Valdeci, visivelmente abalado.

Ao lado do casal, vivem ainda uma filha de 13 anos, que é diabética e requer cuidados constantes, além do pequeno Valdinho, uma criança com deficiência que utiliza cadeira de rodas e fraldas — insumos que a família não consegue obter pelo Estado. “Toda vez que eu vou buscar fralda, nunca tem. E o neuro dele? Só pra dezembro. Até lá, ele tá sem remédio, sem fisioterapia, sem fonoaudiólogo. Sem nada”, contou a mãe, com os olhos marejados.

Gleice revelou que já teve seis filhos, mas perdeu um deles, um jovem de 20 anos que sempre a ajudava com pequenos trabalhos e apoio em casa. “Era meu parceiro, fazia faxina comigo. A ausência dele é uma dor que carrego todos os dias.”

A rotina de sobrevivência

Sem emprego formal, Gleice se vira como pode. Vende frutas, goma e verduras em uma banquinha improvisada na frente de casa, que é o alicerce da renda diária da família. Valdeci, mesmo com as dores, ajuda como pode.

“Essa semana compramos duas caixas de banana com o dinheiro que a gente tinha. Era sábado, meu aniversário, e eu pensei que no domingo, Dia das Mães, íamos conseguir vender. Mas amanheceu tudo preto. Perdemos tudo. Fiquei sem nada de novo”, contou a mulher.

Na mesma semana, o único celular onde ela acessava o Pix estragou. Sem conseguir usar sua própria conta, começou a utilizar a do marido. Restavam R$ 60. Ela, então, decidiu tentar uma última cartada: pedir uma faxina pelas redes sociais.

“Era melhor que pedir. Eu só queria trabalhar. Com os 30 reais, eu comprava 10 reais de fígado, um quilo de arroz e um pacote de macarrão. Já dava pro almoço. A intenção nunca foi viralizar. Mas Deus sabe o que faz.”

Família mantém uma banca onde vende verduras e temperos (Foto: Elias Fonseca/Portal Tumã)

A corrente do bem e o agradecimento

O vídeo postado por Gleice ganhou as redes sociais rapidamente. A comoção foi geral. Pessoas de várias partes do país se sensibilizaram com sua história e começaram a enviar doações via Pix. “Acordamos com Pix caindo. Deu pra comprar bolo pra minha filha. Ela tem 2 anos e pedia sempre. Hoje a gente pôde tomar café da manhã com um pedacinho de bolo. Parece pouco, mas pra gente foi muito”, disse a mãe com gratidão.

Com a ajuda recebida, a família conseguiu comprar alimentos, materiais de curativo para a perna de Valdeci, gás e está economizando para, finalmente, comprar uma geladeira usada e devolver o freezer emprestado.

“Eu agradeço a cada pessoa que ajudou. Que Deus retribua. Um dia, quando tiver tudo resolvido, eu quero que vocês voltem aqui, pra eu poder agradecer de novo, com a casa mais digna. Se Deus quiser, vocês vão ver uma geladeira aqui. E o sorriso dos meus filhos.”

O pedido de um recomeço

Mesmo diante de tantas adversidades, Gleice não perde a esperança. Quer um trabalho fixo, com carteira assinada. “Esse é meu sonho. Ter a carteira assinada. Eu sou auxiliar de cozinha, auxiliar de serviços gerais, eu faço faxina, limpo quintal, lavo panela. Eu trabalho com o que aparecer. O que eu quero é oportunidade.”

Além de alimento e emprego, ela pede ajuda com fraldas, leite, remédios, qualquer coisa que possa aliviar o fardo diário de uma mãe guerreira que, mesmo sangrando por causa de um mioma, sai todos os dias para vender frutas e garantir que seus filhos tenham o que comer.

“Eu tenho saúde, graças a Deus, pra continuar lutando. E eu não posso abandonar o Valdeci agora, porque lá atrás, ele teve uma vida boa comigo. Nós caminhamos juntos, e vamos continuar caminhando, mesmo na dificuldade.”

Como ajudar

Quem quiser contribuir com essa família pode enviar qualquer valor pelo Pix do senhor Valdeci de Souza Silva: (92) 98107-0300. A família vive na Rua Pedro Gomes (antiga Rua 3), Jorge Teixeira, quarta etapa, próximo à Bola do Produtor, e recebe qualquer tipo de ajuda — de alimentos, roupas, fraldas, a uma palavra de apoio.

“Minhas portas estão abertas. Quem quiser vir conhecer, quem quiser ver com os próprios olhos a nossa realidade, pode vir. Não tenho vergonha de lutar. Só tenho vergonha de ver meus filhos passando fome.”

Colaboraram, Elizeu Lopes e Elias Fonseca

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