Manaus (AM) – Imagens captadas por drone mostram a BR-319, rodovia que liga Manaus a Porto Velho, transformada em um imenso atoleiro, com filas quilométricas de caminhões, carros e motoristas exaustos, paralisados em pleno coração da floresta.
O caos se intensificou após as intensas chuvas que atingiram o estado do Amazonas nos últimos dias. Um caminhão tombado em um dos pontos mais críticos da estrada bloqueia a passagem em uma faixa da pista, já quase intransitável. A cena é de abandono: lama até os eixos dos veículos, pontes improvisadas e o rastro de promessas não cumpridas que se arrasta há décadas ao longo dos 885 km da BR-319.
A BR-319 enfrenta problemas estruturais crônicos. Trechos inteiros permanecem sem qualquer pavimentação. No período de chuvas, o solo argiloso se transforma em lama escorregadia, tornando a rodovia um labirinto de obstáculos. Em muitos pontos, os motoristas precisam atravessar balsas improvisadas, enfrentar pontes de madeira deterioradas e, cada vez mais, lidar com os riscos de ficar dias ou até semanas parados no meio da floresta.
“Estou há três dias aqui, sem banho, sem comida. Só quero voltar pra casa”, desabafou um caminhoneiro preso no trecho entre Humaitá e o Careiro da Várzea.
O impacto vai muito além do desconforto dos usuários. O colapso da BR-319 tem reflexos diretos na logística regional, no abastecimento de alimentos, no preço dos combustíveis e na entrega de insumos para o interior do Amazonas. Municípios dependem da rodovia como via essencial de escoamento de produtos e entrada de mantimentos.
E o problema não é só logístico. A região da BR-319 está sob forte pressão ambiental. Um estudo recente apontou que o desmatamento na área de influência da rodovia aumentou 67% em abril — mês de chuvas —, com destaque para o Amazonas, onde a devastação cresceu 108% em áreas cortadas pela estrada. A abertura de novos ramais ilegais, a exploração madeireira e a grilagem de terras avançam com a promessa de uma rodovia pavimentada, mesmo que ela ainda não exista plenamente.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) afirmou estar monitorando a situação e “buscando soluções emergenciais”. No entanto, não há previsão concreta para a liberação completa do tráfego. Técnicos da autarquia relataram dificuldades para atuar devido às condições extremas de solo e à necessidade de remoção do caminhão tombado em segurança, sem causar mais danos.