Guitarras distorcidas, jeans rasgados, uma galera quarentona “pogando” freneticamente. A fumaça serpenteava no ar, enquanto os copos de cerveja brindavam velhas amizades. O bar “O Condado”, na noite do último sábado, parecia ter atravessado um portal do tempo.

Infâmia no palco: Pura energia e nostalgia dos anos 1990.
Era como se os anos 1990 tivessem se materializado ali, em meio à energia crua e vibrante da banda Infâmia, que abriu a noite com uma explosão de distorção. Quando tocaram “Não Por Dentro”, o público parecia se dissolver na melodia. Os rostos brilhavam com um misto de nostalgia e euforia.
No balcão, copos iam e vinham em um fluxo constante. Entre eles, vozes altas e gargalhadas compartilhavam histórias de uma juventude que, embora distante, ainda parecia viva nas memórias. Um grupo de skatistas, agora com os cabelos grisalhos, fumava tranquilamente enquanto relembrava as aventuras pelas ruas de Manaus: manobras ousadas, tombos e noites que terminavam com o céu clareando.
Quando a Infâmia passou o bastão para a atração principal, a banda Espantalho, o público explodiu em aplausos. Alguns correram para perto do palco, enquanto outros apagavam seus cigarros com pressa. O som dissonante das guitarras preenchia o ambiente, como se as paredes vibrassem junto com cada acorde.

Espantalho no palco: o som que conecta passado e presente com alma e intensidade.
E então, o inesperado: o som suavizou, e Marcos Terra Nova, com uma expressão serena, pegou o microfone:
“A gente nem tinha noção de que estava vivendo uma época tão poderosa. Eu sinto orgulho de ter curtido isso em tempo real. Pegamos influência de tanta coisa… The Cure, A-ha e até Metallica. A gente misturava tudo e criava nossa própria linguagem.”
A banda Espantalho, fechando a noite, trouxe sua marca registrada: um rock manauara com pitadas de grunge, indie e rock alternativo. Suas composições eram como quadros abstratos, nos quais cada ouvinte desenhava sua própria história.
O público cantava cada letra em uníssono, como um coro de memórias. Cada verso parecia abrir uma janela para um tempo em que a vida era mais simples, mas também repleta de desafios. Era uma juventude que enfrentou as dificuldades de uma era de transição: o “bug do milênio”, as transformações sociais, o impacto da globalização.
Ali, naquela noite, não importavam as contas, os cabelos brancos ou as dores nas costas. Todos compartilhavam a mesma energia que um dia os moveu. O bar se transformou em um refúgio onde o presente ficou em segundo plano, e o passado dançou, livre, ao som das guitarras.
Quando as luzes se apagaram, o silêncio trouxe um sorriso cúmplice ao rosto de cada um. Não era só nostalgia; era a certeza de que, mesmo em tempos difíceis, eles viveram algo que valia a pena ser lembrado.
E saíram dali, talvez com a camisa suada e a alma lavada.
Dário Matos