The Last of Us é baseado no conflito de Israel e Palestina? Entenda relação da série com a guerra

The Last of Us é baseado no conflito de Israel e Palestina? Entenda relação da série com a guerra

Iniciada em 2013 pela Naughty Dog, The Last of Us mantém até os dias atuais uma posição privilegiada dentro do catálogo do PlayStation Studios. Não à toa, sua adaptação como uma série da HBO, em 2023, foi encarada com muita expectativa — e o trabalho realizado pelo showrunner Craig Mazin conseguiu fazer justiça a elas.

Em um momento no qual a produção se aproxima do final de sua segunda temporada, os fãs puderam ver a protagonista Ellie de maneira bem diferente do passado. Bastante ferida pelo que o destino reservou a Joel, ela parte em uma jornada de vingança na qual está disposta a deixar para trás sua humanidade — e até mesmo aqueles que ama — para cumprir seu objetivo.

Segundo o diretor dos dois jogos da série, Neil Druckmann, boa parte do que vimos neles e na adaptação é fruto de sua experiência com o conflito entre Israel e Palestina que dura décadas. No entanto, reduzir a experiência como uma mera adaptação da guerra real é exagerado e não reflete bem as intenções que o desenvolvedor tinha para a trama.

The Last of Us traz temas inspirados pelo conflito na Cisjordânia

Apontar que The Last of Us traz algumas semelhanças com o conflito entre Israel e Palestina, especialmente aqueles que ocorrem na Cisjordânia, não é exatamente uma novidade. Em 2020, pouco após a estreia do segundo jogo para PlayStation 4, a Vice fez uma matéria extensa ligando a história do game à experiência de vida de Druckmann.

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Nascido em dezembro de 1978 em Israel, Druckmann viveu em um pequeno assentamento estabelecido pelo país até os 11 anos de idade. Depois disso, ele se mudou com sua família para Miami, na Flórida, para depois se mudar novamente para a Califórnia, onde construiu sua carreira como um desenvolvedor da Naughty Dog.

Segundo a Vice, essa experiência de vida se reflete bem no segundo jogo, especialmente no conflito entre a Frente de Libertação de Washington (WLF) e o grupo conhecido como Serafitas. A publicação afirma que, tal qual a Palestina da vida real, a Seattle do game (e da série) é marcada por vários pontos de controle e muros que controlam a movimentação da população.

De forma semelhante, os Serafitas seriam uma alegoria aos palestinos. A Vice afirma que as raízes israelenses de Druckmann o levaram a representar a população do país como um grupo de fanáticos religiosos guiados por uma profeta morta, dispostos a recorrer a sacrifícios e torturas para alcançar seus objetivos.

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Embora o diretor de The Last of Us Parte 2 não negue suas inspirações no conflito real, ele nunca confirmou as comparações feitas pela Vice. Nas poucas entrevistas em que tratou diretamente sobre o assunto, ele afirmou que não quis fazer nenhuma metáfora do conflito real, mas tentou trabalhar alguns sentimentos e pensamentos que surgiram a partir dele.

O que Druckmann afirma sobre a questão?

Em uma entrevista concedida ao site Forward, em abril de 2023, Druckmann explicou que as inspirações para The Last of Us surgiram a partir de dois episódios marcantes de sua vida. O primeiro deles aconteceu em 2011, quando Israel concordou em trocar 1.027 prisioneiros pelo soldado Giladt Shalit.

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O segundo aconteceu quando ele viu o vídeo de um soldado israelense jovem ser linchado até a morte em um ataque na Cisjordânia. Segundo o atual CEO da Naughty Dog, a primeira situação inspirou a decisão de Joel de matar os Vagalumes no final da primeira temporada. Por mais que essa não fosse uma atitude lógica ou correta, o personagem estava disposto a sacrificar tudo para salvar alguém próximo a ele.

Já o linchamento foi determinante para a caracterização de Ellie na segunda parte da história. “Na minha mente, eu pensei ‘oh cara, se eu pudesse apertar um botão e matar todas as pessoas que cometeram esse ato horrível, eu faria eles sentirem a mesma dor que causaram nessas pessoas’”, explicou ele ao Washington Post em 2020.

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O diretor completou que, assim que esse sentimento passou, ficou chocado como foi tomado facilmente pela fúria e pelo ódio. “Eu cheguei nessa ideia emocional de que, podemos nós, no decorrer do game, fazer você sentir esse ódio intenso da mesma forma que o amor incondicional é universal?”.

O diretor explicou que essa dinâmica resultou na história de Ellie e Abby, bem como na decisão de fazer com que os jogadores alternassem entre as personagens. A intenção era que, ao final de The Last of Us: Parte 2, depois de acompanhar o passado e as ações da “vilã”, os jogadores começariam a entender suas ações e perceber que ninguém estava realmente certo no ciclo de ódio que foi criado.

The Last of Us não quer trazer respostas fáceis

À Forward, Druckmann reforçou que o fato de The Last of Us ser inspirado por sentimentos que teve sobre o conflito entre Israel e Palestina não quer dizer que o jogo é uma metáfora ou recriação dele. Ele também reforça que está há tanto tempo distante da Cisjordânia que prefere não compartilhar suas opiniões sobre o que está acontecendo.

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No entanto, ele deixa claro que vê no conflito uma continuidade do ciclo de ódio demonstrado na Parte 2 da série, e que há questões muito complexas em toda a situação. “Eu não gosto quando as pessoas falam que é simples, e, de repente, dão soluções muito simples. Não consigo evitar de revirar os olhos”, afirmou.

“Se vocês pesquisarem um pouquinho mais, veriam como a situação é incrivelmente complicada e está tão cheia de pessoas que se sentiram injustiçadas por gerações, de ambos os lados. Acho que é o mais confortável que me sinto falando sobre isso”, continuou o diretor do game e co-showrunner da série.

Ele também afirma que, especialmente quando se é mais jovem, é fácil se identificar com o ódio de Ellie e todas as ações violentas que ela toma para vingar Joel. “Quando seu ente amado é ferido, pode ser bem mais doloroso do que quando você é machucado — e eu penso que, para sair desse ciclo, de vez em quando é preciso aceitar alguma forma do que você pode entender como injustiça”.

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“E acredito que isso exige muita empatia, que de vez em quando nos falta, e penso que essa foi muito da minha própria evolução”, continuou. “É multivariável, multifacetado, é incrivelmente complexo, e você tem que abordar esses problemas de ângulos muito, muito variados se você tem a esperança de um dia solucioná-los”.

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