Poucos jogos de luta são capazes de furar a bolha do gênero e alcançar um amplo público, ao ponto de serem recebidos com entusiasmo e figurar em listas de lançamentos mais aguardados do ano. Esse é o caso da franquia Mortal Kombat, que com seus mais de trinta anos de história chega no que é provavelmente uma das suas iterações mais inventivas em tempos.
Por mais estranho que possa soar, Mortal Kombat 1 é uma sequência direta de Mortal Kombat 11 e segue a receita típica da NetherRealm Studios, com gráficos de última geração e uma ênfase no seu modo de história cinematográfico, que virou sua marca registrada e agora se passa em uma Nova Era inaugurada por Liu Kang. Mas será que o jogo faz jus às expectativas e entrega o pacote de excelência esperado pelos fãs? Descubra a seguir, no review completo do Voxel.
Novos ares, velhas intrigas
Desde os primeiros materiais de divulgação, Mortal Kombat 1 instiga a curiosidade pela sua premissa de reiniciar a história, apresentando até mesmo novas origens para personagens muito queridos pelo público.
A ideia de linhas temporais e reboots não é novidade na franquia, mas a aplicação, desta vez, faz de Mortal Kombat 1 o jogo com a trama mais envolvente e caprichada dos jogos da NetherRealm Studios em mais de uma década.
Desta vez, acompanhamos Liu Kang como protetor do Plano Terreno em sua jornada para reunir campeões e participar de um tradicional torneio de artes marciais contra a Exoterra, que funciona como um evento social para assegurar a paz entre os reinos. Tudo parece acontecer conforme planejado, mas não tarda até que velhos problemas venham à tona e ameacem o período de paz tão cuidadosamente desenhado pelo antigo Guardião do Tempo. Então, sim, tudo é bastante familiar no fim das contas.
Os personagens de Mortal Kombat 1 têm histórias de origem diferentes na Nova Era criada por Liu Kang.Fonte: Divulgação/Warner Bros. Games
A história tem cerca de cinco horas de duração e também é a maior já produzida pelo estúdio. Ainda assim, ela tem um ritmo excelente e coloca o jogador no papel de vários lutadores do elenco ao longo dos seus capítulos. Por isso, a história é uma ótima forma de experimentar alguns dos personagens e quem sabe descobrir um novo favorito, sem muita preocupação em decorar seus combos e especiais. Da sua metade para o fim, reviravoltas inusitadas vêm à tona e remetem até mesmo a jogos cultuados da era 3D de Mortal Kombat, com várias referências que devem aquecer o coração dos fãs.
Modo Invasões promete muito e entrega nada
Infelizmente, os elogios aos modos single-player de Mortal Kombat 1 acabam por aqui. Em vez da tradicional Cripta para destravar conteúdos cosméticos, o jogo tem um modo inédito chamado Invasões que traz mapas em formato de tabuleiro e elementos de RPG com progressão de nível, atributos e modificadores de personagens.
A ideia é que o jogador explore um cenário navegando por casas, em que cada uma tem uma luta ou uma atividade. Por vezes, caminhos secretos são descobertos e é possível encontrar baús, que garantem equipamentos, skins ou dinheiro.
Há vários mapas para explorar, e todos estão atrelados de alguma forma à história da temporada. Em resumo, o jogador terá um período, algo em torno de 40 dias, para explorar o modo, encontrar suas recompensas e enfrentar seu chefe, que no caso do lançamento é um Scorpion vingativo vindo de uma outra linha do tempo. A premissa parece bacana no papel, mas a aplicação é absolutamente tediosa e esquecível. A NetherRealm Studios pretende atualizar o conteúdo regularmente, mas ainda assim a primeira impressão é terrível.
Modo Invasões decepciona com seu ritmo arrastado e extremamente repetitivoFonte: Reprodução/Bruno Magalhães
Para começar, a navegação no tabuleiro é extremamente travada e sequer há um mapa para ver os arredores com mais liberdade. Por isso, a experiência é tediosa já nas primeiras horas e é bastante fácil de se perder em cenários mais complexos. Para piorar, as lutas são bastante repetitivas e maçantes, pois por algum motivo pensaram que seria divertido dar golpes com armadura aos adversários. Há até mesmo casas que replicam o clássico modo de torres, deixando tudo mais demorado ainda. Não se preocupem, as torres ainda existe de forma dedicada com encerramentos para todos os personagens, mas não é nada diferente do que já foi feito nos jogos anteriores.
As mecânicas que modificam as propriedades dos personagens, como os talismãs e os danos elementais com suas respectivas fraquezas e vantagens, não são funcionais o suficiente para convencer o jogador a se aprofundar. É possível vencer as lutas facilmente sem nem tomar conhecimento delas. Nem mesmo houve um cuidado para dublar as falas nesse modo para português, destoando bastante da qualidade do modo história. Por isso, o Invasões é apenas um processo tedioso e demorado para liberar mais conteúdos cosméticos.
Outra grande decepção é o modo de desafios de combos, que é comumente utilizado para aprender um pouco mais dos personagens em jogos de luta. Aqui, há lutadores com apenas UM desafio, enquanto outros chegam no máximo a seis. Para piorar, há exercícios que estão claramente quebrados, pois apresentam sequências que não funcionam. É sério, nem mesmo a demonstração da própria CPU consegue aplicar o combo. É no mínimo desastroso.
Mortal Kombat 1 acerta naquilo que mais importa, ainda que com ressalvas
Mas calma, vamos voltar aos tópicos positivos. Os gráficos de Mortal Kombat 1 são impecáveis e fazem um excelente uso dos hardwares atuais. O destaque com certeza fica com os cenários, graças ao nível de detalhes e contraste durante as batalhas. Também há vários deles para selecionar, um mais bonito que o outro. As animações dos golpes, que antes eram alvo de muita crítica nos jogos da desenvolvedora, também estão bastante caprichadas neste novo jogo.
A gameplay de Mortal Kombat 1 também é um dos seus maiores destaques, especialmente por deixar de lado vários dos principais problemas do seu antecessor. Por exemplo, as mecânicas de levantamento agora são muito mais justas. O controverso sistema de variações, que deixava tudo mais burocrático, felizmente foi deixado de lado e agora existem os Kameos, que são lutadores de assistência selecionados a partir de um elenco à parte.
As lutas de Mortal Kombat 1 permitem chamar um lutador aliado para ajudar, mas que não é totalmente controlávelFonte: Divulgação/Warner Bros. Games
Cada Kameo tem seu arsenal de golpes e podem ser chamados a qualquer momento em combate, permitindo a criação de combos únicos e jogadas ensaiadas. Pensem neles como se fossem os parceiros que chamamos em jogos como Marvel Vs. Capcom ou Dragon Ball FighterZ, mas sem a opção de controlá-los diretamente.
Algo que pode incomodar é que não necessariamente serão escolhidos os Kameos que o jogador gostar, mas sim aqueles que têm mais sinergia com seu personagem principal. Também corre o risco de um se destacar muito em relação aos demais, deixando as lutas bastante repetitivas. Mas essa é uma questão de balanceamento que devemos esperar para ver e que só deve incomodar jogadores veteranos.
O elenco inicial, por sua vez, é bastante variado e interessante. Vários lutadores esquecidos há tempos estão de volta, entre eles Havik, Nitara, Ashrah, Tanya, Reiko, entre outros. São 23 personagens selecionáveis a princípio, com a promessa de mais sendo adicionados via DLC, incluindo o Capitão Pátria de The Boys. Isso mantém a tradição de lutadores convidados vindo de lugares inusitados.
Fica o elogio também para as opções de acessibilidade, que incluem modos para daltônicos e o ajuste de volume com dicas auditivas para indicar a distância entre os personagens, além de quando alguém está se defendendo ou agachando. Há, também, uma opção de audiodescrição para ler menus, mas que causa um bastante estranhamento em português do Brasil porque parece ter sido feita com inteligência artificial.
Para quem quer saber do modo online, foi possível testar um pouco antes do lançamento. O jogo faz uso de netcode de rollback e as partidas são bastante responsivas, então dificilmente haverá problemas com relação a isso. Só não é possível cravar nada com relação ao matchmaking, pois os testes aconteceram em uma sala privada. Infelizmente, o jogo foi lançado sem cross-play e isso também pesa bastante na decisão de compra, já que é importante unificar a comunidade o máximo possível em jogos de luta. A desenvolvedora já confirmou a intenção de lançar a funcionalidade mais tarde.
Vale a pena?
Por um lado, Mortal Kombat 1 entrega a melhor história da franquia, visuais de última geração e um elenco com personagens interessantes. Por outro, é um jogo bastante raso em conteúdo single-player e que destoa do histórico da franquia, que só foi capaz de furar a bolha dos jogos de luta por ter apostado em atividades divertidas. É estranho e triste atestar que jogos da safra do PlayStation 2 tenham mais variedade nesse sentido.
O game passa a impressão de que está incompleto em muitos sentidos, apostando unicamente em atualizações a longo prazo para tentar cativar a comunidade. O modo Invasões não é uma exceção e pode decepcionar aqueles que gostavam da fórmula da Cripta, já que é arrastado, repetitivo e esquecível. Dessa forma, a tarefa de destravar conteúdos cosméticos se prova bastante cansativa.
A ausência de cross-play no lançamento é um grande retrocesso se pensarmos em outros jogos de luta da atualidade, e isso com certeza deve prejudicar bastante a comunidade nesse início de game. A Nova Era é bastante promissora, mas é inegável que deixa um gosto amargo de primeira impressão.
Nota do Voxel: 75
A análise de Mortal Kombat 1 foi realizada no PS5 com um código enviado pela assessoria da Warner Bros. Games Brasil. O jogo chega em 19 de setembro no PC (Steam, Epic Games Store), PlayStation 5, Xbox Series X|S e Nintendo Switch, com Acesso Antecipado a partir de 14 de setembro para quem reservar a versão Premium.