Baía do Sancho, Fernando de Noronha. Foto: Camille Panzera
“Moro em um país tropical, abençoado por Deus”, como diria Jorge Benjor. Aqui, o mar não é apenas cenário; é memória, poesia e, acima de tudo, um direito. Quem nunca pulou a roleta do ônibus, entre risos cúmplices, só para estender uma canga na areia e sentir o abraço salgado do vento? Ou levou a família inteira para a praia com uma caixa de isopor e um sonho de felicidade simples?
Essas cenas de verão, tão nossas, estão ameaçadas por algo que não vem da natureza, mas da ganância: a PEC das Praias. Ela propõe transferir terrenos de marinha para estados, municípios e, pior, para mãos privadas. Um projeto que pode transformar o que é de todos em um privilégio para poucos.
Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, a discussão fervia. O pedido de vista por parte de senadores contrários foi uma resposta à pressão popular. Flávio Bolsonaro, relator do texto, tentou dourar a pílula ao propor que as receitas fossem destinadas a saneamento básico. Uma promessa que soa tão sincera quanto um político em campanha.
A verdade é que essa PEC carrega um fantasma: o da exclusão. Imagine seus filhos nunca descobrirem o prazer de construir castelos de areia à beira-mar, ou os jovens perderem a chance de conquistar amores embalados pelo som das ondas e de um violão desafinado. Essa proposta nos rouba não apenas o acesso ao litoral, mas a liberdade de vivê-lo plenamente.
Sob o pretexto de desenvolvimento econômico, ela abre espaço para praias privatizadas, onde a areia se torna moeda, e o mar, uma paisagem distante para quem não pode pagar. Assim, a casa de verão no Nordeste ou aquela pousada acessível em Salinas se tornam um sonho reservado aos convites das festas do Menino Ney e seus pares.
Privatizar praias não é apenas um atentado contra a natureza; é um ataque ao que nos conecta. É apagar memórias futuras, reduzir o espaço onde todos somos iguais diante do infinito azul.
Mas o povo resiste. Nas redes sociais e nas ruas, a voz do Brasil grita por justiça. Porque lutar pelo mar é lutar por nós mesmos — por nossos encontros, nossas histórias e, sobretudo, nosso direito de existir em liberdade.
Se você é contra essa PEC, posicione-se. Nosso silêncio hoje pode custar o som do mar para as gerações de amanhã.
Dário Matos