Brasil – Uma mulher de 36 anos foi presa preventivamente nesta quarta-feira (11), suspeita de ter causado a morte do próprio filho de apenas 11 meses, na cidade de São Pedro do Sul, na Região Central do Rio Grande do Sul.
O laudo toxicológico revelou a presença de amitriptilina no organismo do bebê, um medicamento antidepressivo de uso controlado, sem qualquer indicação para crianças. A substância, segundo a Polícia Civil, pode provocar efeitos colaterais severos e, neste caso, teria agravado o quadro clínico da criança, que já enfrentava uma gastroenterite.
O caso fica ainda mais perturbador com o histórico familiar. A mulher, cujo nome é mantido em sigilo para preservar os filhos sobreviventes, já havia perdido dois filhos antes dos quatro anos de idade, em 2017 e 2018. As mortes, à época tratadas como naturais, nunca foram investigadas.
“Agora, com esse novo episódio e as evidências laboratoriais, é impossível ignorar os antecedentes. Estamos reavaliando as mortes anteriores”, disse o delegado responsável pelo caso, que já solicitou a reabertura dos arquivos médicos e, se possível, a exumação dos corpos das duas crianças.
Em 29 de novembro do ano passado, o bebê foi levado ao hospital municipal com sintomas de baixa responsividade e dificuldades respiratórias. Ele sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu poucas horas depois. À época, o laudo preliminar indicou broncoaspiração como causa da morte, o que é compatível com vômitos ou refluxo, sintomas comuns em casos de intoxicação ou efeitos colaterais de medicamentos inadequados.
A investigação prosseguiu, e o laudo toxicológico foi definitivo ao apontar a presença da amitriptilina. Com base na análise técnica, a polícia concluiu que o uso do antidepressivo foi fator determinante para o agravamento do estado de saúde do bebê.
Atualmente, a mulher tem outros quatro filhos vivos, todos agora sob acompanhamento do Conselho Tutelar. O caso lança um alerta sobre as lacunas na rede de proteção à infância, sobretudo em municípios menores, onde o acompanhamento psicológico, visitas domiciliares e notificações de risco nem sempre são tratados com a urgência necessária.
“Estamos diante de um possível padrão de violência invisível e silenciosa, onde o próprio lar, que deveria proteger, pode ter se tornado o lugar mais perigoso”, afirmou um servidor do Ministério Público que acompanha o caso.
A polícia não descarta a possibilidade de distúrbios psiquiátricos ou síndrome de Münchhausen por procuração, quando um cuidador provoca ou simula doenças em crianças sob seus cuidados, mas aguarda os desdobramentos da investigação e perícias psicológicas para confirmar qualquer hipótese.
A mulher segue detida preventivamente. O inquérito, que deve ser concluído nas próximas semanas, pode resultar em indiciamento por homicídio qualificado, com agravantes como motivo torpe e uso de meio cruel. Caso confirmadas suspeitas sobre as outras duas mortes, novas acusações podem ser adicionadas ao processo.
Enquanto isso, a cidade de pouco mais de 17 mil habitantes tenta digerir a dor e o choque de um caso que, silenciosamente, pode ter se arrastado por quase uma década, sem que ninguém tivesse conseguido interromper a sequência de tragédias.