BRASIL – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou nesta sexta-feira (16) que não considera o atual governo de Nicolás Maduro na Venezuela uma ditadura. Segundo Lula, o país vizinho enfrenta um “regime muito desagradável” e apresenta características de um governo com “viés autoritário”, mas não se encaixa na definição de ditadura que se conhece em outras partes do mundo.
“Eu acho que a Venezuela vive um regime muito desagradável. Não acho que é ditadura, é diferente de uma ditadura. É um governo com viés autoritário, mas não é uma ditadura como a gente conhece tantas nesse mundo”, afirmou o presidente em entrevista à Rádio Gaúcha. Ele ressaltou a importância da Venezuela para o Brasil, mencionando a extensa fronteira que os países compartilham e o potencial para uma relação comercial robusta.
Lula também comentou sobre as recentes eleições presidenciais venezuelanas, cujo resultado ainda não foi reconhecido pelo Brasil e pela maioria dos países. Órgãos oficiais, sob o controle de Maduro, declararam a reeleição do presidente, mas a oposição alega que o candidato Edmundo González obteve mais de 60% dos votos. A demanda por maior transparência no processo, com a divulgação dos “dados desagregados” das urnas, segue sem resposta.
O presidente revelou que houve uma tentativa do governo venezuelano de impedir a viagem do ex-chanceler Celso Amorim, atual assessor internacional de Lula, para acompanhar as eleições. “Quando o Celso Amorim ia viajar para a Venezuela, eu fui informado que eles tinham pedido para o Celso Amorim não ir. Eu mandei comunicar que se o Celso Amorim não pudesse ir, eu comunicaria à imprensa que a Venezuela estava impedindo. Aí, deixaram o Celso Amorim ir”, relatou Lula.
Ao criticar a atuação internacional em relação à Venezuela, Lula afirmou que o “mundo chamado democrático”, referindo-se à União Europeia e aos Estados Unidos, não agiu corretamente nos últimos anos. Como exemplo, mencionou o apoio ao então autoproclamado presidente venezuelano Juan Guaidó, que desafiou a liderança de Maduro entre 2019 e 2021. Lula destacou a precipitação na decisão de apoiar Guaidó e de impor sanções à Venezuela.
“Eles elegeram um tal de Guaidó para ser presidente da Venezuela. A reserva de ouro que a Venezuela tinha na Inglaterra, de 31 toneladas de ouro, foi dada sob a guarda desse Guaidó. Ele não era presidente”, disse Lula, questionando a legitimidade da ação internacional. Ele defendeu a abertura de um diálogo antes de se tomar decisões drásticas, como punições e condenações, e revelou ter expressado essa opinião a líderes europeus como Emmanuel Macron e Olaf Scholz.
A entrevista de Lula reflete a postura de seu governo em manter uma posição diplomática pragmática em relação à Venezuela, buscando equilibrar críticas à administração de Maduro com a defesa dos interesses econômicos e geopolíticos brasileiros na região.