A questão de saber se estamos sozinhos no espaço sideral foi abordada de forma sofisticada por uma equipe de pesquisadores da Universidade das Filipinas Los Banos. Partindo do princípio de que, apesar dos seus 14 bilhões de anos, o Universo ainda é relativamente jovem para que a vida tenha se propagado para planetas habitáveis, o estudo testou modelos de civilização em um ambiente homogêneo.
Para entender o potencial de colonização de uma possível civilização avançada através de uma rede de planetas supostamente terraformáveis em nosso universo, o estudo, ainda não revisto por pares, ponderou diversas questões sob a perspectiva da física computacional, “inspirados na Teoria da Percolação”. Nesse modelo, civilizações poderiam se espalhar de planeta em planeta, e mesmo entre estrelas, porém até atingir um ponto de saturação.
Hospedado por enquanto no repositório de preprints arXiv, o artigo “Percolação de ‘Civilização’ em um Universo Isotrópico Homogêneo” trabalha com o chamado “modelo de crescimento logístico (LGF na sigla em inglês)”. A ferramenta descreve matematicamente o crescimento de uma população ou sistema, levando em consideração limitações no ambiente, ou seja, aumenta rapidamente no início, mas estabiliza ao atingir uma margem ambiental.
Algumas questões sobre a colonização do Universo
Fermi queria saber: “onde estão todos eles?” (os extraterrestres).Fonte: Getty Images
Para testar suas hipóteses, os autores usaram os princípios da física computacional a uma hipotética seção esférica do Universo delimitada por um horizonte de Hubble, ou seja, tudo o que é observável a partir da Terra. Eventos ou objetos além dessa distância não podem ser observados, pois estão se afastando a uma velocidade maior que a da luz.
Portanto, após definir essa região finita e esférica do espaço cósmico, contida dentro do raio do horizonte de Hubble, a primeira questão proposta no trabalho foi: “quanto tempo levaria para uma civilização avançada colonizar todos os planetas habitáveis ou terraformáveis” dentro de um universo fisicamente observável por nós?
Em seguida, os pesquisadores perguntaram: “pode uma civilização avançada colonizar todos os planetas habitáveis ou terraformáveis numa determinada seção esférica do Universo?”. Finalmente, dentro de uma dinâmica da colonização, “como se comportaria o número de planetas ocupados com o tempo?”.
Testando civilizações em três tipos de universo
A equipe testou modelos de universo: estático e dominados pela energia escura e pela matéria.Fonte: GettyImages
O objetivo geral do trabalho foi responder às três perguntas propostas, porém testando um sistema simplificado, “para abrir caminho para pesquisas mais aprofundadas e complexas no futuro”, segundo o estudo. Por isso, o parâmetro proposto foi um modelo homogêneo e isotrópico, ou seja, um universo composto exclusivamente de células que representam planetas habitáveis.
A partir daí, os pesquisadores isolaram uma seção esférica tridimensional e colocaram uma “civilização” na célula central. Em um cenário de universo estático, eles descobriram que os assentamentos se comportam exatamente como o LGF, ou seja, um padrão geral, que começa de forma relativamente lenta, limitado pela escassez de fontes, no caso apenas o número de planetas habitáveis, já que esse tipo de universo não se expande nem se contrai.
No caso de um universo dominado pela energia escura, com o parâmetro de Hubble baixo, nem todos os planetas podem ser “colonizados”, pois alguns se afastam além da velocidade da luz. Já em um cenário de universo orientado pela matéria, a esfera de Hubble diminui (porque a atração gravitacional entre as partículas desacelera a expansão do universo). Isso conduz a um tempo de colonização finito, que depende dessa variável.
Dizendo alô para civilizações extraterrestres
Colonização de todos os planetas de uma seção esférica é factível, diz estudo.Fonte: Getty Images
Em resposta à pergunta fundamental do físico Enrico Fermi — “Onde estão todos eles?” — a equipe concluiu que é possível que nossa galáxia esteja atualmente no que chamaram de Fase I, ou taxa lenta de colonização. Aqui somente algumas civilizações inteligentes e evoluídas decidiram se envolver na colonização interestelar.
Conforme o primeiro autor do trabalho, Allan L. Alinea, essa fase mais lenta pode ser acentuada pelas grandes distâncias entre os planetas “vivos”. Mas, assim que um certo número de civilizações for atingido, entraremos na Fase II, com perspectiva de rápidas colonizações. “Se tivermos tempo suficiente para entrar nesta fase, poderemos finalmente dizer olá para os alienígenas no futuro”.
O estudo conclui que, embora exista um horizonte limitado de Hubble em um universo regido por matéria, ele está crescendo e não encolhendo como no caso do universo de energia escura. Uma vez que o seu crescimento é mais rápido do que o povoamento, “a colonização de todos os planetas numa seção esférica deste universo parece ser sempre possível”.
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