MUNDO – Na madrugada desta segunda-feira (29), o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Elvis Amoroso, anunciou a reeleição de Nicolás Maduro com 51,2% dos votos nas eleições presidenciais realizadas no domingo (28). O principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, obteve 44,2% dos votos, conforme os resultados oficiais.
Processo eleitoral venezuelano
Desde o encerramento das urnas, a oposição intensificou os pedidos para que seus eleitores continuassem em “vigília” nos centros eleitorais. María Corina Machado, que liderou a campanha apoiando González, pediu que os oposicionistas atuando como fiscais exigissem atas de resultados nos centros de votação, citando que esse era um direito previsto em lei.
O processo eleitoral foi seguido de perto pelos países vizinhos e pelos EUA, mas teve uma reduzida participação de observadores internacionais, após o governo Maduro retirar o convite para que uma missão da União Europeia acompanhasse o pleito.
O presidente chileno Gabriel Boric questionou abertamente os resultados e afirmou que o Chile só reconhecerá números “verificáveis”. “O regime de Maduro deve entender que os resultados que publica são difíceis de acreditar”, afirmou Boric.
Reação do governo brasileiro
Até a publicação desta reportagem, os presidentes do Brasil, Colômbia e México não haviam se pronunciado sobre os resultados. O ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, pediu a contagem total de votos, sua verificação e uma auditoria independente. “Os resultados eleitorais de um dia tão importante devem ter toda a credibilidade e legitimidade possíveis para o bem da região e, sobretudo, do povo venezuelano”, disse Murillo.
O Brasil enviou a Caracas Celso Amorim, ex-chanceler e assessor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para temas internacionais. Amorim celebrou a tranquilidade do processo eleitoral, mas destacou que aguardaria os resultados finais e esperava que fossem respeitados por todos os candidatos.
Reações internacionais e contestação interna
Diversos países, incluindo Estados Unidos, Argentina, Chile, Peru, Guatemala e Costa Rica, emitiram comunicados oficiais rejeitando os resultados anunciados pelo CNE e pedindo maior transparência no processo eleitoral. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, expressou “séria preocupação” com a validade dos resultados e questionou a legitimidade do processo. Blinken destacou que “é fundamental que todos os votos sejam contados de forma justa e transparente” e que “as autoridades eleitorais partilhem imediatamente informações com a oposição e observadores independentes”.
No cenário interno, a reeleição de Maduro foi marcada por comemorações na sede da campanha em Caracas, onde o presidente reeleito celebrou com apoiadores ao som de músicas que o destacavam como o “coração do povo”. No entanto, o clima no país permanece tenso, com relatos de violência, incluindo a morte de um homem em um ataque atribuído aos “coletivos”, grupos paramilitares alinhados ao governo.
A líder da oposição, María Corina Machado, afirmou que González teria obtido 70% dos votos, com base nas atas dos centros de votação. Machado, que foi impedida de se candidatar pela Justiça venezuelana, declarou que a oposição continuará denunciando o que considera uma manipulação dos resultados eleitorais. “Temos informação e temos as atas”, disse Machado, acrescentando que as supostas modificações feitas nos resultados foram “grosseiras”.
Histórico e implicações futuras
A vitória de Maduro representa a continuidade do chavismo, que teve início em 1999 com Hugo Chávez. Maduro, que assumiu após a morte de Chávez em 2013, mantém-se no poder em meio a críticas crescentes sobre a condução do país. A oposição, liderada por figuras como María Corina Machado, promete continuar lutando pela verdade e pela transparência dos processos eleitorais.
O desdobramento dessa eleição pode intensificar a instabilidade política e social na Venezuela, à medida que a oposição e a comunidade internacional questionam a legitimidade do governo e pedem mudanças significativas no sistema eleitoral do país. O próximo mandato de Maduro, de janeiro de 2025 a janeiro de 2031, será crucial para determinar o futuro político e econômico da Venezuela.
Possível auditoria dos resultados
Um dos grandes temas a partir de agora será uma possível auditoria dos resultados. Na Venezuela, o sistema de votação é eletrônico, mas há diferenças em relação ao brasileiro. Após votar, o sistema imprime o voto e o eleitor o coloca em uma urna. Depois da votação, os fiscais comparam os resultados das urnas eletrônicas com os do papel.
Pouco depois do anúncio feito pelo CNE, o chanceler venezuelano, Yvan Gil, divulgou uma nota dizendo que seu país estava denunciando e alertando ao mundo sobre “uma operação de intervenção contra o processo eleitoral”. Com todos os olhos voltados para a Venezuela, a pressão por transparência e justiça no processo eleitoral não deve diminuir nos próximos dias.