Ícone do site Portal Amazonês | Notícias e Informações

Brics não é um “bloco antiamericano”, afirma embaixador brasileiro

Brics não é um "bloco antiamericano", afirma embaixador brasileiro

MUNDO – O embaixador Maurício Lyrio, negociador-chefe do Brasil no Brics, afirmou em entrevista publicada nesta quarta-feira (12) que a visão do grupo como um bloco de oposição aos Estados Unidos é “completamente equivocada”. A declaração foi feita na página oficial do Brics, onde Lyrio abordou as recentes expansões do grupo, iniciadas em 2023, com a entrada de novos membros efetivos e a criação da categoria de países parceiros.

O Brasil assumiu a presidência temporária do Brics em janeiro deste ano, com mandato até dezembro. O grupo, que reúne países como Rússia, China, Índia, Indonésia e Emirados Árabes Unidos, além do próprio Brasil, sediará em julho a cúpula de líderes, recebendo chefes de Estado e de governo.

Questionado sobre a percepção do Brics como um “bloco antiamericano”, Lyrio respondeu que essa visão é incorreta. “O Brics foi criado para promover o desenvolvimento dos países em desenvolvimento, não como um antagonismo aos países ricos. O crescimento do Brics tem gerado efeitos positivos para a economia internacional, incluindo para os países ricos”, afirmou.

O embaixador destacou o papel fundamental dos países do Brics no G20, criado após a crise financeira de 2008 para integrar nações em desenvolvimento nas discussões globais. “O objetivo é que todos, ricos e em desenvolvimento, cooperem para resolver problemas globais, como a crise do clima, a pobreza e a saúde”, acrescentou.

Especialistas em relações internacionais avaliam que as recentes expansões do Brics podem ampliar as áreas de influência geopolítica de grandes potências como Rússia e China, países que têm entrado em conflito com os Estados Unidos, seja de forma política ou comercial.

A entrada de países como Cuba e Bolívia, por exemplo, não teria um impacto positivo real nas economias dos demais membros do bloco, mas garantiria maior contato direto entre essas nações e Moscou e Pequim.

O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem ameaçado aumentar as tarifas impostas a produtos de países do Brics. Essa ameaça surge em um contexto em que líderes do bloco, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defendem a adoção de moedas locais em transações comerciais entre os membros.

Desde o acordo de Bretton Woods (1944), o dólar é a moeda padrão em transações internacionais. No entanto, líderes do Brics avaliam que essa dependência da política monetária americana pode prejudicar as economias locais. O Brasil colocou como um dos eixos centrais de discussão no Brics a “facilitação do comércio e investimentos entre os países do grupo, por meio do desenvolvimento de novos meios de pagamento”.

Lyrio afirmou que o Brics tem avançado na área de cooperação financeira e comercial, com foco em reduzir os custos de comércio entre seus membros e expandir os investimentos, especialmente em setores sustentáveis. “A cooperação no comércio e investimentos é uma das áreas de maior potencial para o Brics no futuro”, disse.

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, participou nesta semana em Paris da Cúpula para Ação sobre Inteligência Artificial, onde alertou que deixar o controle do desenvolvimento da inteligência artificial “nas mãos de poucos” pode gerar “sérias consequências” para as democracias ao redor do mundo.

O Brasil colocou entre os eixos de discussão da presidência do Brics a governança global da inteligência artificial, ou seja, a adoção de regras internacionais sobre o desenvolvimento e uso da tecnologia. “A inteligência artificial é um tema central para o Brics, com grande potencial para impactar positivamente áreas como saúde, combate à mudança do clima e educação. No entanto, também é necessário estar atento aos riscos, como a substituição de empregos e a proliferação de fake news”, disse Lyrio.

“O Brics está trabalhando para criar uma governança internacional para garantir que a inteligência artificial seja usada de maneira ética e para resolver problemas globais, como a pobreza e as doenças”, completou.

Sair da versão mobile